Entre o caffé e o cognac

Nonfiction, Religion & Spirituality, New Age, History, Fiction & Literature
Cover of the book Entre o caffé e o cognac by Alberto Pimentel, Library of Alexandria
View on Amazon View on AbeBooks View on Kobo View on B.Depository View on eBay View on Walmart
Author: Alberto Pimentel ISBN: 9781465565884
Publisher: Library of Alexandria Publication: July 29, 2009
Imprint: Library of Alexandria Language: Portuguese
Author: Alberto Pimentel
ISBN: 9781465565884
Publisher: Library of Alexandria
Publication: July 29, 2009
Imprint: Library of Alexandria
Language: Portuguese
Eu já citei algures estas palavras de Alexandre Dumas pae: «Ha sempre nos moveis que vos cercam alguma cousa de vós mesmos». Tão profunda verdade, se carecesse de demonstração, encontral-a-ia no gabinete de Camillo Castello Branco. É aquelle um templo consagrado unicamente á Arte. Alli tem altar a pintura, a archeologia, a historia natural, e a litteratura. Presente-se que se está no gabinete d'um grande romancista porque se adivinha a historia de cada quadro, a novella de cada movel, a epopêa do tinteiro de metal amarello d'onde ha pouco mais de vinte annos tem nascido para gloria das letras portuguezas cerca de cem livros. Tudo alli falla. Ha idillios de saudade suavissima a murmurar ao de cima dos silenciosos companheiros da mocidade; ha marcos milliarios que rememoram successivas phases da vida do escriptor. Os verdadeiros amigos de Camillo são aquelles. Só elles guardam o segredo de intimas commoções, que parecem vibrar ainda em novellas escriptas ha doze annos, e que primeiro lhe arrancaram lagrimas a elle do que a nós. O talento de Camillo é nosso: estamos ha longo tempo familiarisados com elle; tanto o estimamos, que o vamos procurar mal que se annuncia um livro novo. Nós lemos o livro já enroupado em galas de estremada linguagem; mas o seu gabinete lê o esboço da novella tal como lhe sahiu do coração. Nós vemos a estatua; o seu gabinete vê Pigmalião. Quando as lagrimas nos chegam a nós já as sentimos dulcificadas pela amenidade da phrase. Não as vemos; conhecemos-lhes apenas os vestigios. Mas o seu gabinete viu-as. O mesmo é pelo que respeita a personagens. Nós conhecemos o retrato; o gabinete conheceu o modelo. Camillo tem feito a historia de muito homem; só o seu gabinete poderia fazer a historia de Camillo. Nós temos o romancista; o gabinete tem o homem. Ainda mais. Se os moveis quizessem fallar, revelariam o romance de muito escriptor portuguez, que elles têm conhecido e ouvido em intimas praticas, ora contando os seus desalentos, as suas maguas, os seus queixumes, ora arroubando-se em enganosos sonhos, em esperanças quasi sempre mentidas, em aspirações poucas vezes realisadas...
View on Amazon View on AbeBooks View on Kobo View on B.Depository View on eBay View on Walmart
Eu já citei algures estas palavras de Alexandre Dumas pae: «Ha sempre nos moveis que vos cercam alguma cousa de vós mesmos». Tão profunda verdade, se carecesse de demonstração, encontral-a-ia no gabinete de Camillo Castello Branco. É aquelle um templo consagrado unicamente á Arte. Alli tem altar a pintura, a archeologia, a historia natural, e a litteratura. Presente-se que se está no gabinete d'um grande romancista porque se adivinha a historia de cada quadro, a novella de cada movel, a epopêa do tinteiro de metal amarello d'onde ha pouco mais de vinte annos tem nascido para gloria das letras portuguezas cerca de cem livros. Tudo alli falla. Ha idillios de saudade suavissima a murmurar ao de cima dos silenciosos companheiros da mocidade; ha marcos milliarios que rememoram successivas phases da vida do escriptor. Os verdadeiros amigos de Camillo são aquelles. Só elles guardam o segredo de intimas commoções, que parecem vibrar ainda em novellas escriptas ha doze annos, e que primeiro lhe arrancaram lagrimas a elle do que a nós. O talento de Camillo é nosso: estamos ha longo tempo familiarisados com elle; tanto o estimamos, que o vamos procurar mal que se annuncia um livro novo. Nós lemos o livro já enroupado em galas de estremada linguagem; mas o seu gabinete lê o esboço da novella tal como lhe sahiu do coração. Nós vemos a estatua; o seu gabinete vê Pigmalião. Quando as lagrimas nos chegam a nós já as sentimos dulcificadas pela amenidade da phrase. Não as vemos; conhecemos-lhes apenas os vestigios. Mas o seu gabinete viu-as. O mesmo é pelo que respeita a personagens. Nós conhecemos o retrato; o gabinete conheceu o modelo. Camillo tem feito a historia de muito homem; só o seu gabinete poderia fazer a historia de Camillo. Nós temos o romancista; o gabinete tem o homem. Ainda mais. Se os moveis quizessem fallar, revelariam o romance de muito escriptor portuguez, que elles têm conhecido e ouvido em intimas praticas, ora contando os seus desalentos, as suas maguas, os seus queixumes, ora arroubando-se em enganosos sonhos, em esperanças quasi sempre mentidas, em aspirações poucas vezes realisadas...

More books from Library of Alexandria

Cover of the book The Light of the Star: A Novel by Alberto Pimentel
Cover of the book Microcosmography by Alberto Pimentel
Cover of the book Diary in America (Complete) by Alberto Pimentel
Cover of the book Narrative and Critical History of America: Spanish Explorations and Settlements in America from the Fifteenth to the Seventeenth Century by Alberto Pimentel
Cover of the book Slave Narratives: A Folk History of Slavery in the United States From Interviews with Former Slaves Indiana Narratives by Alberto Pimentel
Cover of the book The Old Road by Alberto Pimentel
Cover of the book The Religion of the Sikhs by Alberto Pimentel
Cover of the book American Poetry, 1922: A Miscellany by Alberto Pimentel
Cover of the book The Story of Hungary by Alberto Pimentel
Cover of the book The Retrospect by Alberto Pimentel
Cover of the book The Desert World by Alberto Pimentel
Cover of the book The History of Australian Exploration From 1788 to 1888 by Alberto Pimentel
Cover of the book A Legend of the Rhine by Alberto Pimentel
Cover of the book Great African Travellers From Mungo Park to Livingstone and Stanley by Alberto Pimentel
Cover of the book Universal Etymological English Dictionary (1737) by Alberto Pimentel
We use our own "cookies" and third party cookies to improve services and to see statistical information. By using this website, you agree to our Privacy Policy